20. Ser Médico.

Ser MÉDICO não é deixar de viver a própria vida e sim viver milhares de vidas humanas em uma só existência.

É diluir-se voluntariamente na imensa vida universal, na suprema fusão de todas as coisas.

É abrigar no coração os corações de todas as pessoas.

Ser médico não é ser frio ou insensível. É sentir na alma a dor de todos os corpos, e, ainda assim, encontrar forças para anestesiar seus sentimentos e emoções mais intensas por aqueles que padecem, para conseguir curar os corpos e almas dos que sangram.

Ser médico é trazer no pulso um limitado e preciso relógio marcador de segundos, e no peito a eternidade para repartir com generosidade punhados de tempo entre os que sofrem, arrancando minutos não se sabe de onde, multiplicando-se as horas não se sabe como.

É não ter o direito de chorar em meio a tantos e tão fortes motivos de pranto, mas chorar quando esses motivos fizerem seus olhos enxerem-se de lágrimas. É poder se alegrar com a cura, com a chegada de uma nova vida.

É ser eternamente forte e extremamente frágil e sensível com o seu paciente.

É ser um aliviador do sofrimento humano, seja físico ou písquico. Não é ser onipotente e sim unipresente para cada um dos seus. Não é tratar uma doença e sim um doente.

A humildade grandiosa e a grandiosidade humilde.

Ser médico é chegar no fim da trilha e poder dizer do fundo do peito: AMEI.

Pelotas, 09 de Janeiro de 2007. (11:15)